quinta-feira, junho 14, 2007

Às pessoas que merecem nossa adminiração.

Quando começamos a falar nessa coisa de imigração para o Canadá, eu tive a minha primeira crise de idade. Comecei a me achar velho demais para o processo, começar uma vida inteira do nada, já com 33 anos e coisa e tal. E uma das primeiras pessoas com quem conversamos foi a Dorinha, madrinha da Tati que mora na Alemanha há 20 anos. Além de ser muito ligada à Tati e casada com uma das pessoas mais sensatas e esclarecidas que eu conheço, ela é também uma imigrante. Foi depois dessa conversa que lançamos a pedra fundamental do nosso projeto. A primeira de muitas conversas que tivemos sobre o tema.

Quando conheci a Dorinha ela já morava lá, para onde foi com marido e filho, da mesma forma como eu e a Tati estamos indo: sem nenhuma garantia de emprego, moradia, estabilidade. Apenas a certeza de que ia começar a vida de novo e a coragem necessária para encarar essa empreitada. E deu certo. Facil não foi, mas se posso admirar uma pessoa pela forma como encarou os desafios da vida e venceu, essa é a minha escolha e aqui está a minha homenagem. É o exemplo que eu espero seguir.

Conversamos muito sobre o recomeço, as escolhas, as possibilidades que teríamos aqui e lá, e em nenhum momento eles deixaram de nos incentivar e de torcer por nós. E esse apoio foi decisivo: difícilmente estaríamos vivendo o estágio atual sem o aconselhamento deles.

Quando estivemos lá no fim do ano passado, vivemos dias inesquecíveis, conversas maravilhosas com o Uwe, o alemão mais brasileiro que eu já conheci. Até hoje rimos das discussões acaloradas e recordamos com carinho a atenção com que fomos recebidos. Passamos o Natal na Alemanha e no início do ano nos encontramos de novo em Portugal, onde ficamos mais dez dias recarregando a alma de espírito português para voltar a vida normal. Lá eles pretendiam passar a próxima etapa da vida: a aposentadoria, mais do que merecida, em um lugar culturalmente mais parecido com o Brasil e climaticamente mais quente que a Alemanha também.
Voltamos de lá renovados e mais confiantes do que nunca. As conversas sobre as experiências vividas em um outro país foram preciosas para nós e nosso plano de imigração.

Deixamos o convite, prontamente aceito, para a primeira visita em terras Canadenses, confiantes no futuro. Afinal, se conseguirmos seguir o mesmo caminho que eles, o prognóstico é bom.

A mais ou menos um mês, no dia 11 de maio, descobrimos que ela não vai mais poder visitar a gente no Canadá. Ao invés disso, ela estará se mudando para lá com a gente.


Dorinha, querida, teremos saudades.

Pés no chão.

Post publicado originalmente em 08/05/2007, mas que o Blogger "comeu"...

Hoje eu lí um post em um blog de uma pessoa que já está no Canadá e que está vivendo na pele as dificuldades de se começar de novo.

É claro que a pior coisa que você pode fazer para o seu futuro é achar que será fácil recomecar a vida em um lugar que você sequer conhece. E não acredito que esse seja o caso dessa pessoa. Todos os desafios de uma decisão dessas estão muito bem descritos no blog dele e foi uma de minhas leituras iniciais sobre o processo de imigração. Uma enciclopédia. Então o que será que não estava nos planos? Talvez nada.

Quando eu penso na mudança e me preparo para essa nova etapa da minha vida, imagino sempre os desafios que terei que enfrentar para não me deixar levar pelos relatos mais otimistas - ou pessimistas - que encontro em profusão pela internet. Dessa forma eu já vou me preparando para encarar a vida de frente e sem surpresas. Mas a verdade é que todo dia eu tenho aquela pontinha de dúvida. Será que eu estou realmente pronto? Encarar a vida sem surpresas? Isso é possível? A verdade é que a gente só vai saber disso na hora que encarar o bicho de frente. E mesmo que o seu plano seja infalível, isso quer dizer apenas que você não pensou em todas as variáveis.

Então comecei a pensar que o melhor mesmo não é você estar preparado para tudo, é estar preparado para nada. O fato das coisas não sairem do jeito que você imaginou não significam o fracasso. Apenas que você terá que rever os seus planos, o que também não é nenhum bicho de sete cabeças. A menos que você tenha criado expectativas quanto ao que iria encontrar.
Essa é uma forma de não procurar culpados para os fracassos, ou mesmo não ver o fracasso estampado em uma porta fechada.