sexta-feira, agosto 17, 2007

Vida de Primeiro Mundo

Começo dizendo que odiei o título do Post, mas não achei nenhuma outra definição que encaixe melhor no texto abaixo.

Sempre fui muito brasileiro e tinha uma visão meio doméstica do resto do mundo. Mas devo confessar que essa coisa de pensar que o Brasil ainda pode ser como a Suíça, que só somos discriminados porque estamos no hemisfério de baixo, bem, não é lá muito verdadeira. Temos muita coisa boa sim, coisas que eles não tem e não acreditariam, mas existem patamares de organização existentes no mundo - e não só no "primeiro mundo" - que simplesmente nunca conseguiremos fazer funcionar aqui. Não enquanto o Brasil for habitado por brasileiros.

Estive em um país que é mais ou menos do tamanho da Bahia e nesse espaço vivem 60 milhões de pessoas, ou um terço da população brasileira. Um bocado de gente: se fizermos uma regra de três, veremos que é relativamente muito mais que o Brasil. Mas existem uns seis prédios com mais de vinte andares. O resto tem em média sete pavimentos, se a cidade for grande. A maioria é bem mais baixa. E não tem ninguém apertado por lá. Não há engarrafamento, embora todo mundo tenha carro.

O que isso tem a ver com o Brasil? Planejamento. Se vamos fazer uma cidade crescer, temos que ter ruas preparadas para o fluxo de carros, escolas para as crianças e canos para passar o esgoto dessa gente toda. Ninguém vai esperar o cocô voltar pela privada para lembrar disso. Isso é planejamento. Coisa que o Brasil não tem. Eu moro hoje em uma cidade de 600.000 habitantes, que é média para o padrão do Brasil. Pois aqui não cabe mais gente. Nem por isso param de construir. São cerca de 100 novos apartamentos a cada mês. As ruas são apertadas e a prefeitura comemora o progresso da cidade, pois isso quer dizer mais dinheiro. A cidade tem um dos maiores IPTU’s do país, mas a minha rua é de terra e a água é de poço, porque até dois anos atrás não tinha rede de abastecimento ou de esgoto, que foi finalmente implantada por uma empresa privada.

Mas o Brasil não tem competência para planejar? Tem sim, existem aqui muitos especialistas em planejamento urbano. Só que os cargos são políticos, mesmo os técnicos. E são assim porque o brasileiro não planeja nada, então não precisa de técnicos. É melhor esperar dar tudo errado, porque aí é possível conseguir aquela verba emergencial para consertar sem licitação, o que é muito mais lucrativo do que executar o plano inicial. E ninguém vê reclamações com relação a isso. Não sendo possível dessa forma, deixa errado mesmo, porque a gente acaba se acostumando. Vejam a operação Tapa-buracos do Lula, o PAC do Lula e, só para ficar em três exemplos e fechar com chave de ouro, procure no Google por “a verdade do PAN”

Tá bom, isso é uma caricatura minha do Brasil, mas é uma bem realista. É por isso que eu acho que nunca seremos primeiro mundo. Nada a ver com dinheiro ou PIB. Não funcionamos da mesma forma, só por isso. Mas para constar, acho que podemos encontrar o nosso equilíbrio assim mesmo e não precisamos seguir o modelo deles. Só que vai custar muito mais.